Aprendi desde muito cedo que o nome é a identidade que abre
as portas para o meio social.
Fui registrado pelo meu querido pai (pra mim o eterno e
verdadeiro Dom Sebastião) na década de 60, com o nome de Flávio, e já nos
primeiros anos entendi a necessidade de associar este nome às coisas boas,
afinal os primeiros erros teriam nome e sobrenome (ainda que também começasse a
saber que errar é do homem).
Nunca dei muita importância para o que poderia significar
este nome, tampouco me importei com as histórias que ouvia a respeito dos
sobrenomes. O que sempre valeu muito, para minha pouca inteligência de menino,
e muita imaginação, era saber que eram os tais Flávios (não da definição
semântica, mas dos outros). Soube que o “meu” fora dado em decorrência dum
craque da pelota, mas também por ser um substantivo próprio, porém quase
“comum” nos idos de 50 e 60 do século passado.
O nome então ficou comigo como uma pequena joia nos
primeiros doze anos de minha vida, até que bem no comecinho de minha
adolescência surgiu um tal Fafá de Belém.
Explico: O Claudiomiro, amigo/irmão, dos tempos do antigo
ginasial, quando me viu sem camisa na troca de roupas durante a aula de
Educação Física, enxergou nos meus pequenos mamilos os fartos seios da cantora
que despontava para o Brasil, naquele ano.
Quase morri de vergonha! Eu que já me acostumara com a beleza
sonora do meu nome: a exata divisão de três diferentes consoantes, com três
diferentes vogais, passava a responder pela alcunha, e pela tristeza da/o Fafá!
Minha alegria foi que aquele ano passou rápido, o Claudiomiro desapareceu e, lá
no Liberato Bittencourt, quase ninguém soube deste codinome.
Anos depois, já quando a mocidade se avançava, comecei a
descobrir o mundo, e a aproximação mais incisiva da felicidade, que,
impreterivelmente, passava pelos agrupamentos. Era assim: quem quisesse ser
feliz tinha que estar numa trupe.
Não demorou muito para me juntar aos bandoleiros (era um
tímido com assanhamentos; então o entrosamento era natural). O segundo passo
era eu mesmo me rebatizar.
Foi quando outro amigo, que queria muito me apresentar aos
seus colegas, me perguntou assim: “Seu nome é bonito, mas você não tem um
apelido! Afinal é uma marca mais forte que o nome! Vamos? Qual é o seu?” -
Pensei... Pensei... E lasquei todo envergonhado: “Fafá!”. – Senti em seu
sorriso uma mistura de indignação e a ao mesmo tempo de simpatia - “Ah! Sim, é
pra melhorar o Flaflá, né não? Ficou
melhor, mesmo!”.
Alguns dias depois a trupe estava reunida e, finalmente,
fora apresentado como o Fafá (um jeito de não ser o Flávio e sem a minha
vergonha nacional, que era o Fafá de Belém). Não é que me acostumei. Verdade!
Fafá parecia mais “duro”; encarava a brutalidade alheia com força, tinha o
peito e o coração mais resistente, logo os assombros não machucavam meus olhos,
que nunca quiseram ver o que a gente tem que se acostumar a ver desde que a
gente chega a este mundo de misérias e belezas.
Hoje, o apelido já quase desapareceu. Mas outro dia, quando
passeava com meus filhos e outras crianças, não é que encontrei, e ouvi dum
amigo destes tempos; que nasceu Carlos, depois virou Pelé (o mesmo que liderou
a trupe com maestria); que agora responde pelo respeitabilíssimo Carlos
Alberto, me perguntar assim: “Você já falou pra esses meninos sobre o Fafá?”
ARTESÃO AMIGO:
FLÁVIO LUIZ COSTA
Luiz Costa de sobrenome
Flávio para os mais ou menos íntimos
Tímido, mas não intimidado (pela política e pela polícia)
É assim que vou
Pra frente, quando não de lado
De lado, quando não para trás.
Professor, mais que poeta
Menor professor, maior poeta
Nascido no São José
Vilarejo de Pirituba
Numa casa, numa rua de número 4 A
A rua, não a casa que era de nº 22, mais que tinha o A também.
Filho do DOM SEBASTIÃO
E da minha santa JUDITH
Por isso fiquei assim: filho do rei e da santa
Uma quase santidade.
Por isso tudo... amém!