Hoje conversamos novamente. Fizemos mão de frases
curtíssimas e pensamentos entrecortados, como convém quando a conversa se dá
por meio das famigeradas mensagens instantâneas, justificadas pela nossa eterna
falta de tempo. Nos falta tempo para quase tudo. É muito comum ouvirmos de
pessoas agitadas, e sempre muito ocupadas, que não lhes sobra tempo para mais
nada, nem para um simples bate-papo durante a pausa para o café, por mais que
desejasse. Mas será que deseja mesmo?
Certa vez pensei até em arriscar um “Pois então
desocupe-se”. Mas antes que o pensamento se tornasse palavra eu o abortei. Não
faço ideia da reação que provocaria porque a impressão que tenho é que andam
todos muito orgulhosos da sua falta de tempo, até para as coisas mais básicas,
como uma simples conversa.
Dirão por aí que os tempos mudaram. Que são novos tempos. Jogando
luzes novas sobre velhos problemas. Solucionando mistérios que ainda nem
sabemos que existem. Mas para que nasça o novo, o velho deve morrer. Aos poucos
tudo será substituído. Nossas certezas, nossas verdades. Nós.
Se tem algo que sempre pareceu caro demais para me permitir
abrir mão, é o tempo que nos reservávamos para uma conversa. Não daquele tipo
citado acima, cheia de códigos e abreviações, enviadas a dezenas de pessoas ao
mesmo tempo.
Refiro-me à conversa franca, olhos nos olhos, de falar
pausado, pensado. Respirado. De palavras rebuscadas, ou não, mas com todas as
suas sílabas sendo pronunciadas, sem pressa para concluir seu raciocínio, na
certeza de que seu interlocutor também não tinha nada mais importante a fazer
naquele momento. Sentido prazer no falar tanto quanto no ouvir o que o outro
teria a dizer, por mais trivial que o assunto pudesse parecer.
Exercitávamos nossa capacidade de argumentar, experimentando
especial sensação ao sermos confrontados com uma opinião dissonante,
questionando nossas regras e paradigmas, nos obrigando a fundamentar melhor
nossa visão sobre o tema, nos permitindo até pensar que saíamos da conversa
melhores do que quando chegamos.
Por tantas vezes, já invadindo a madrugada, as conversas
precisaram ser interrompidas. Mas nunca com um ponto final. Por vezes
reticências, outras por interrogação, deixando implícita a ideia de que o
assunto voltaria à baila e às taças brevemente. A forma como terminava era
quase um convite para uma nova conversa. Novo encontro. Novos, ou velhos,
assuntos. Isso de fato não importava. Sabíamos que dificilmente entraríamos em
uma discussão dispostos a mudar de opinião, mas adorávamos discutir. Era a
parte sedutora das conversas.
Mas o tempo, sempre ele, que a tudo assiste e torna pequeno,
passa. Não julga, não condena ou absolve. Deixa as tarefas menores para nós,
pequenos humanos. Ele apenas passa. Incomplacente.
Quanto a nós humanos, pobres em sabedoria e tão repletos de
soberba, que não podemos perder mais tempo com coisas consideradas pequenas, me
parece que entre tantas outras coisas grandes, estamos perdendo o especial prazer
da conversa.