ARTESÃO DA LITERATURA

sexta-feira, 26 de junho de 2015

ZÉ DO GATO

André Jorge
    


 Zé do Gato era o mestre-sala da Favela do Fogo Cruzado, onde as balas não são de hortelã, as bombas não são de chocolate e as granadas não são bombons de licor.
     Ninguém se atrevia a meter-se a besta com o Zé, não senhor! Príncipe da malandragem, sua especialidade não era apenas o desfilar na avenida dos seus perdidos carnavais. Ele era também “dotô” na capoeira, mestre no fio da navalha e na chapa-de-pé.
  


   Seu pandeiro era desafio e desacato. Ganhou o apelido que o tornou popular pela arte de saltar muros altos nas horas extras e fazer a limpeza na casa dos otários que se encontravam em seus locais de trabalho. Mas, principalmente, pela perseguição diária e cruel que fazia aos gatos da redondeza, cujas carnes comia ruidosamente em engraçadas e deprimentes “ga-churrascadas”, e cujos couros curtia pendurados nos varais, como as “nossas roupas comuns dependuradas” de uma canção antiga chamada Chão de Estrelas. Gato que se espreguiçasse perto do Zé, acabava mesmo desfilando em algum carnaval, não como puxador ou passista, mas como pandeiro mesmo!
     Como não há valentia que sempre dure, nem gato que tenha realmente sete vidas, o Zé acabou sendo encontrado no seu barraco de zinco, enquanto a lua “Salpicava de Estrelas” o seu chão, numa quarta-feira talvez de cinzas, furado de bala, cortado de navalha e curtido que nem presunto magro quando fora da geladeira.
     A Favela do Fogo Cruzado respeitou as duas horas de luto oficial pela morte do seu grande e gatuno herói, que permanece até hoje esquecido inesquecivelmente para sempre... 
O ARTESÃO DESTE TEXTO:




Nasceu aos 21 de abril de 1958 na Capital de São Paulo. Durante algum tempo de sua infância morou no sítio de sua família, no sul de Minas Gerais, com seu pai e seu avô que liam bastante, e acabaram dando a ele o bom gosto da literatura. Alguns anos mais tarde, habituado às constantes consultas a enciclopédias e ao diário conhecimento de clássicos  brasileiros, foi se interessando pela História do Brasil e pela beleza da escrita dos nossos maiores mestres, resolvendo assim, arriscar-se a escrever crônicas  e poemas. Observou em breve tempo as imensas dificuldades da arte, não apenas em nosso país, como em toda a parte, mas mesmo assim prosseguiu sua jornada de letras, sonhos e realizações pessoais, em função da fé em suas verdades. 



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