Zé do Gato era o mestre-sala da Favela do Fogo Cruzado, onde as balas não são de hortelã, as bombas não são de chocolate e as granadas não são bombons de licor.
Ninguém
se atrevia a meter-se a besta com o Zé, não senhor! Príncipe da malandragem,
sua especialidade não era apenas o desfilar na avenida dos seus perdidos
carnavais. Ele era também “dotô” na capoeira, mestre no fio da navalha e na
chapa-de-pé.
Seu pandeiro era desafio e desacato. Ganhou o apelido que o tornou popular pela arte de saltar muros altos nas horas extras e fazer a limpeza na casa dos otários que se encontravam em seus locais de trabalho. Mas, principalmente, pela perseguição diária e cruel que fazia aos gatos da redondeza, cujas carnes comia ruidosamente em engraçadas e deprimentes “ga-churrascadas”, e cujos couros curtia pendurados nos varais, como as “nossas roupas comuns dependuradas” de uma canção antiga chamada Chão de Estrelas. Gato que se espreguiçasse perto do Zé, acabava mesmo desfilando em algum carnaval, não como puxador ou passista, mas como pandeiro mesmo!
Como não
há valentia que sempre dure, nem gato que tenha realmente sete vidas, o Zé
acabou sendo encontrado no seu barraco de zinco, enquanto a lua “Salpicava de
Estrelas” o seu chão, numa quarta-feira talvez de cinzas, furado de bala,
cortado de navalha e curtido que nem presunto magro quando fora da geladeira.
A Favela
do Fogo Cruzado respeitou as duas horas de luto oficial pela morte do seu
grande e gatuno herói, que permanece até hoje esquecido inesquecivelmente para
sempre...
O ARTESÃO DESTE TEXTO:
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