Então vamos ao ato: foi no início dos anos 90 do século
passado, quando morei em Porto Alegre do Norte, lá nas bandas da região
Centro-Oeste do país que conhecemos o casal, que eram os pais das crianças que
brilhavam durante o dia e à noite eram iluminados como a Lua. Tinham a natureza
nos pés, e corriam pela floresta com a propriedade dos donos do pedaço.
Passavam tardes com os passarinhos, com as cobras e os lagartos, à beira dos
rios e dos riachos, só reapareciam quando o dia estava a fim dum descanso. Aí voltavam para casa e eram as crianças mais
felizes que já vieram à Terra.
Às vezes, penso que se a liberdade tivesse registro, ele
teria os nomes dos pais dessas crianças: Valdo/Benvinda, que se somados aos dos
pequenos, seria a mais fina e pura tradução (pra plagiar o baiano) duma das
maiores utopias da história da humanidade.
Lembro como se fosse hoje da menina me questionando: “Este
Flávio só fala que num pode, que num pode, que num pode! Como é que pode, num
podê nada?”, e eu só achava graça, sem entender direito pra que tanta
liberdade.
Mas foi o menino que, definitivamente, me surpreendeu:
Num começo de noite, quando a mãe já aparentava uma ligeira
preocupação com as crianças que não chegavam, e nós ríamos com as histórias do
Valdo sobre a existência do homem e dos bichos (histórias contadas com
pormenores poéticos e filosóficos), os dois pequenos entraram correndo pela casa, que
era uma choupana dividida em duas partes: a reservada como dormitório e
biblioteca, e a reservada para conversa com amigos, em meio à comida e cafés
infinitos; e o Iberê esbaforiu seu entusiasmo: “Mãe, agora tô cheio de
grilos!”. A Benvinda logo demonstrou a sua preocupação: “Cheio de grilos... na
cabeça?” – “Não, não, mãe! Cheio de grilos, aqui, nesta caixa de fósforos!” –
“Aí, nesta caixa de fósforos? Solta este bichinhos... eles irão morrer!” –
“Não, não... eles ficarão comigo até amanhã!” A mãe então aceitou. O menino já
sabia das coisas, desde pequeno.
O Iberê então correu de novo para o quintal,
colocou a caixinha de fósforo aberta perto dum tanque de lavar roupas e esperou
pra ver se os grilos não iam embora. Como eles ficaram quietinhos ali, ele correu
pra nos chamar: “Venham, venham ver... é bem rapidinho!” – Então saímos todos e
fomos até perto do tanque. E não é que
aqueles grilos do mato, verdinhos como as folhas, começaram a cantar, até
atraíram três lindas fêmeas, e começarem a copular. Um amor que parecia não ter
fim. Que sorte esta nossa!
ARTESÃO AMIGO:
FLÁVIO LUIZ COSTA
Luiz Costa de sobrenome
Flávio para os mais ou menos íntimos
Tímido, mas não intimidado (pela política e pela polícia)
É assim que vou
Pra frente, quando não de lado
De lado, quando não para trás.
Professor, mais que poeta
Menor professor, maior poeta
Nascido no São José
Vilarejo de Pirituba
Numa casa, numa rua de número 4 A
A rua, não a casa que era de nº 22, mais que tinha o A
também.
Filho do DOM SEBASTIÃO
E da minha santa JUDITH
Por isso fiquei assim: filho do rei e da santa
Uma quase santidade.
Por isso tudo... amém!
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