Foto: Dourovale |
Gari
não é feito de carne. Gari não tem língua de carne nem dente que morde.
Vem
de algum tipo de limbo sem dentro, fora ou oco. Tem ouvido de vento dentro dum
vácuo poroso. Suposto de algum suco vítreo. Sem luz. Sem sombra.
Nenhum
guri abraça gari. Nem repara que gari não tem carne.
Carrega
carriola, vassoura, entulho, cartas sem destino, juras e confissões com recusa.
Resto. Resto dos restos. Varre assa de barata, folha seca, embalagem de picolé,
inseto vivo, bagaço, camisinha desprezada no canteiro. Melenta. Bolo de
cabelos: branco, castanho, preto, loiro, liso enrolado. Tudo embolado: unha
roída, trapo, poeira, pentelho. Ciscalho.
Foto: Dourovale |
Serviço,
juntar lixo das carnes sem ser e carne. Porque carne de gari ninguém nunca viu.
Ninguém nem ouviu.
ARTESÃ AMIGA
Maria
Cláudia Mesquita é escritora, atriz, compositora, cantora e integrante
do grupo Instante de teatro. Escreveu duas peças do grupo, A Espera Dela, que
aborda assuntos sobre violência contra a mulher e A Primeira Palavra, peça
infantil que fala sobre criação de histórias. Também faz parte da peça Nas Asas
do Tempo.
Site: mariaclaudiamesquita.com.br
FACEBOOK: @mesquita.mariaclaudia
Instagram: @mariaclaudia.mesquita
E-mail: mclaudiamesq@gmail.com
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